domingo, 25 de maio de 2014

Filme de ator encontrado morto estreou nos cinemas três dias depois de assassinato

Rafael Souza, 19 anos, tinha um sonho: ser ator. E o ideal do garoto de Cosme de Farias, filho de pais separados e criado com carinho perto da avó paterna, havia começado a ganhar forma, na última sexta-feira, quando o longa-metragem Trampolim do Forte, no qual interpretara o personagem Caga-Sêco, estreava nas telas de cinema da cidade de Feira de Santana, a 109 quilômetros de Salvador. Rafael não chegou a ver o sonho realizado tão de perto. 

Enquanto o primeiro trabalho profissional do menino ganhava as telas de cinema, a família do garoto vivia um drama real: a missão de sepultar os corpos dele e da mãe, Marli Jesus dos Santos, 40 anos, ambos mortos a facadas dentro de casa na madrugada de terça-feira, em Cosme de Farias. 

“Ele era mais que sobrinho, era meu filho, estava comigo nos melhores e piores momentos. Fui tantas vezes com ele de ônibus ao teatro, para os ensaios do filme, ele não tinha dinheiro do transporte. A gente da família não teve essa chance, não teve estudo, veio de baixo. Ele era um jovem com um futuro brilhante, ele lutou tanto para seguir essa carreira que ele sonhou”, disse, ontem, emocionado, o tio Cristóvão Costa de Souza, quando chegava ao Cemitério do Campo Santo, onde Rafael foi enterrado no final da tarde.

O corpo da mãe, Marli, foi sepultado no início da manhã do último sábado (24), na cidade de Ibicuí, no Sudoeste baiano, onde ela nasceu.

O cortejo com o corpo de Rafael foi acompanhado por cerca de 50 pessoas, entre amigos, familiares e o pai do jovem ator, que havia concluído o ensino médio e trabalhava há menos de um ano no Hospital Santa Izabel como aprendiz. Era lá que Rafael conseguia dinheiro para ajudar a mãe, empregada doméstica, nas contas de casa.

Apesar de viver com Marli, ele era muito ligado com a avó paterna, falecida há dois meses, a quem costumava chamar de mãe. O desejo do pai, de sepultar o filho ao lado da avó, não pôde ser cumprido por falta de vaga no cemitério de Brotas. “Se tem uma forma de definir Rafael, era dizer que ele era um menino com o perfil de uma pessoa madura. Ele tinha prazer em ajudar, e quanto mais ele ajudava, mais se via um brilho nele”, resumiu o amigo Julio Cardim, que conhecia o jovem há dois anos. 

Tia do garoto, Maria de Fátima Souza Vieira lembrava com carinho da personalidade do sobrinho. “Ele era um menino abençoado, não ouvia nada calado, ele brigava até o fim. Era um menino de bem, estudioso, todo mundo gostava dele. Uma pessoa que faz uma crueldade dessa com um jovem dormindo não pode ficar impune”, disse, enquanto pedia empenho da polícia na prisão do assassino. 

Segundo Maria de Fátima, Rafael havia se inscrito para o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem) e queria uma vaga na universidade para se especializar na arte de atuar. O amigo, Julio, conta até que ele já havia comentado sobre a possibilidade de outros trabalhos na área. Nada mais foi concretizado. O titular da 1ª delegacia de Homicídios (DH), Marcelo Sansão, que investiga o caso, disse que o suspeito já foi identificado e um pedido de prisão já foi solicitado. Sansão não revelou a identidade do suspeito do crime, que ainda não havia sido preso até ontem.

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