segunda-feira, 11 de fevereiro de 2013

A seca bate à porta da capital

Um sinal de alento nos chegou dos céus ao solo do nosso Semiárido, trazendo esperança para as milhares de famílias que vivem da produção agrícola. São 65% do território baiano, castigados pela maior estiagem dos últimos 30 anos. Nunca se viu algo igual, como nos relatam agricultores, produtores rurais e muitas famílias de municípios como Pedro Alexandre, Pindobaçu, Canudos, Tucano, Cícero Dantas, Jaguarari, Caldeirão Grande, Santa Brígida, dentre muitos outros que compõem a triste estatística de 260 municípios com situação de emergência decretada. Que outras frentes frias nos cheguem pelos lados de lá, pois apesar do fio de esperança, as consequências que hoje se apresentam nos alertam que muito ainda terá que cair pra cobrir todo o estrago. Falo das lavouras, das produções de alimento, da sobrevivência animal, que hoje estão dizimados em muitos campos.

Já são 300 mil bovinos perdidos neste território. Uma lástima, pois estávamos em crescimento pecuário significativo, graças aos recentes investimentos do governo na área. Até culturas tradicionais e mais resistentes como as de caju, umbu e sisal, foram seriamente prejudicadas, com perdas de até 80%. E a triste sina semiárida não para por aí. Estimativa de colheita três vezes menor para o café, em 2013, caso não chova mais; preço do feijão 40% mais alto; colheita de frutas como laranja, tangerina, limão com 80% de perda já esperada; a produção do leite já reduziu em 70%. São perdas econômicas de 20% a 40%. Resultado de tantas perdas: consumo prejudicado.

A estiagem nos bate à porta e invade nossas dispensas não somente nos municípios longínquos, mas aqui na capital também. Corremos risco de nos faltar à mesa itens que temos como básicos, ou nos chegar com preços mais caros nos mercados. Portanto, a seca no Sertão precisa de toda nossa atenção, estejamos nas regiões mais áridas, no sul do estado e até mesmo na capital, que julgamos estar tão longe de tanto sofrimento. Onde estivermos, em nossa Bahia, somos tocados pelas consequências de uma estiagem como a que vivemos.

Devemos atentar para esta calamidade que, apesar dos esforços emergenciais e permanentes que vem sendo feitos com muito empenho pelos órgãos de governo, deve deixar um legado de dez anos para ser compensado. Um legado amargo não somente para um governo, mas para todos nós, da capital e de todos os municípios. Felizmente, nossas ações vem aprendendo a não ser apenas reativas, mas preventivas, de modo a convivermos com a realidade da natureza nestes locais. Construir barragens, cisternas e sistemas de abastecimento, perfurar novos poços, ampliar ligações de estruturas já existentes, melhor aproveitar a água subterrânea, a exemplo do Programa Água para Todos, são algumas das ações estruturantes que devem ganhar força para acumular este bem para momentos de escassez que, com certeza, virão ano após ano.

Outras experiências, como as criadas por organizações sociais do semiárido (Arcas, Irpas, EFAs), podem fundamentar políticas públicas, a exemplo da plantação de culturas mais resistentes (palmas densadas, forrageiras), que possibilitem o agricultor resistir por mais tempo. Temos previsões cada dia menos esperançosas e, enquanto isso, não falta trabalho a fazer. Todo esforço deve, certamente, ter como fundamento um conceito: convivência com o Semiárido. Compreender as particularidades da região e projetar ações que sejam viáveis e que garantam o acesso à água a quem mais precisa.

Fátima Nunes é deputada estadual pelo Partido dos trabalhadores (PT BA)


ASCOM PT BAHIA

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